Com o intuito de conhecer, compreender e documentar o processo de criação coreográfica solista composta e interpretada pela própria bailarina-coreógrafa, propus-me criar, observar, refletir sobre e descrever o processo de criação coreográfica da obra ‘Inspiração', assumidamente tornando conscientes e documentando todas as fases, desde a conceção, composição e ensaios, até à apresentação final ao público.
‘Inspiração’, uma obra solista de 45 minutos, conjuga as linguagens da Dança e do Yoga, numa aproximação à Dança Extemporânea, tendo como ponto de partida a descoberta do movimento natural do corpo da bailarina-coreógrafa que passou pelo processo coreográfico de forma autónoma e em relação privilegiada com os seus processos intuitivos.
De carácter eminentemente qualitativo, com características mistas, este estudo inscreve-se no Paradigma Performativo de Haseman (2006) e utiliza métodos autoetnográficos recorrendo à auto-observação e a reflexões evocativas sobre as práticas coreográfica e performativa. Metodologicamente, esta pesquisa decorre da prática (Practice-led Research), assume-se como uma forma de questionamento da prática e assenta numa abordagem etnográfica visual ao utilizar componentes gráficos, audiovisuais e performativos.
Como resultados obteve-se a criação artística coreo(autoetno)gráfica solista Inspiração; a dissertação que através de um registo escrito reúne e organiza os dados recolhidos e articula o conhecimento produzido; os vídeo-documentários que mostram o processo coreográfico e performativo da obra; o vídeo oficial da obra coreográfica; e um conjunto de 3 outputs: o Resumo Técnico, o Modelo dos Processos e Fases, e o Modelo do Espectro Solista-Colaborativo.
Em conclusão, esta investigação, que acompanhou a prática coreográfica em tempo real, procurou avançar conhecimento com significado operacional e caracterizou um processo coreográfico ao qual adicionou camadas de observação e de interpretação contribuindo para a compreensão, clarificação e sistematização do ato de compor uma obra coreográfica solista autoral.
Nome: Inspiração
Duração: 45 minutos sem intervalo
Estilo: Dança Extemporânea (Dança e Yoga)
Tipo de coreografia: fixa
Nº de apresentações públicas: 18
Identificação dos autores e intérpretes:
Conceção, coreografia, interpretação - Raquel Oliveira
Poemas - Judite Duarte
Figurino, ambiente sonoro e voz, luzes - Raquel Oliveira
Data de início: junho 2014
Data de fim: fevereiro 2016
Atividades desenvolvidas: preparação dos ensaios coreográficos (delinear as 4 etapas de pesquisa coreográfica e os conceitos coreográficos iniciais, definir o conceito inicial da obra coreográfica e iniciar o processo de recolha de poemas) e ensaios coreográficos que incluíram Sessões de Improvisação (período específico do ensaio dedicado à improvisação livre e à criação do catálogo de movimentos); Estudos Fotográficos (período específico do ensaio dedicado ao estudo das posições e à criação do catálogo de posições); Sessões de Composição (período específico do ensaio dedicado ao estudo de movimentos e à gravação dos Rascunhos das Coreografias); e Ensaios da Estrutura (período específico do ensaio dedicado à gravação do rascunho da obra coreográfica, ou seja, fazer as coreografias todas criadas até esse momento pela ordem em que vão ser apresentadas na obra e sem interrupções).
Instrumentos de trabalho: Corpo, Respiração, Meditação em Movimento, mesa e banco, colunas de som, computador (câmara de vídeo, Windows Media Player, Adobe CS4, Windows Movie Maker, Word, Explorador de Ficheiros), gravador de áudio do telemóvel, Diário Artístico.
Métodos de composição: Seleção de Movimentos e de Sequências do Catálogo, Repetição-Improvisação-Seleção, Estudo do Poema, Improvisação-Seleção-Composição, Edição de Imagens, Estudo da Respiração, Seleção de Posições, Visionamento das Gravações.
Data de início: novembro 2014
Data de fim: setembro 2016
Atividades desenvolvidas: Ensaios Performativos que incluíram os Ensaios de Aperfeiçoamento (período de ensaios dedicados ao refinamento dos movimentos e à definição pormenorizada das coreografias), os Ensaios Corridos (período de ensaios dedicados à execução da obra coreográfica do princípio ao fim sem interrupções), os Ensaios Assistidos (período de ensaios dedicados à partilha da obra coreográfica com um número restrito de indivíduos com vista à auscultação da sua sensibilidade sobre o trabalho concretizado), e os Ensaios de Manutenção (período de ensaios dedicados a manter o corpo funcional e a memória dos pormenores da coreografia). Sessões Fotográficas, Sessões Videográficas, definição do figurino e das luzes, gravações no estúdio de som, tarefas de divulgação do trabalho, preparação dos espaços de atuação, Sessões de Apresentação, gravação oficial da obra coreográfica.
Instrumentos de trabalho: corpo, respiração, meditação em movimento, mesa e banco, colunas de som, computador (câmara de vídeo e Windows Media Player, Adobe CS4, Windows Movie Maker, Publisher), 3 projetores, câmara de vídeo e tripé, cadeiras, ficheiro de som ou CD, o fato, a maquilhagem, os produtos para o cabelo, a fita adesiva e a tesoura.
Utilização de 2 processos diferentes identificados no Modelo do Espectro Solista-Colaborativo:
- Processo (1a) coreógrafo-bailarino como perito, sem assistente coreográfico;
- Processo (2) coreógrafo-bailarino como autor e assistente coreográfico como intérprete
Não houve colaboração na conceção e criação do ambiente sonoro da obra, do desenho de luzes e do desenho do figurino pois ficaram todos a cargo da bailarina-coreógrafa.
Existiu colaboração na criação dos poemas, na gravação em estúdio da voz off e na confeção do figurino.
Não houve colaboração nas Sessões Fotográficas e nas Sessões Videográficas.
Houve colaboração nos ensaios assistidos, na escrita dos textos para a folha de sala e na preparação do espaço para a performance.