Gil Buiza (1991) afirma que, de um ponto de vista meramente técnico, as Sevilhanas são uma forma músico-literária cantável que se dança, e que por essa razão os termos musical-literário-cantado-dançado são inseparáveis nas Sevilhanas.
Gil Buiza (1991) reforça a importância do uso da palavra Sevilhanas no plural, por ser a melhor forma de designar o complexo música-canção-poema-dança e também por ser um termo genuíno do povo em geral e utilizado pelos seus intérpretes, sejam os cantores, os dançarinos ou os guitarristas. Carretero Munita (citada em Gil Buiza, 1991) também insiste para que se utilize o termo no plural, precisamente pelos diferentes aspetos que as Sevilhanas apresentam e porque se dançam em séries de quatro. Durand-Viel (1983) por sua vez atribui o uso do plural à natureza inicialmente adjetiva do termo, na expressão Seguidilhas Sevilhanas, e a explicação que propõe, com reservas, para o uso do termo Seguidilhas, também no plural, é que provavelmente as Seguidilhas sempre se cantaram e dançaram em série, em número variável de 3 a 7.
Sobre a origem das Sevilhanas, Carreras y Candi (1943), Carretero Munita (1980), Durand-Viel (1983), Espada (1997), García Matos (1971), Gil Buiza (1991), Mena (1992), Nuñez (2011) e Vargas Mancera (2010), afirmam que descendem de uma dança conhecida como Seguidilhas; e Gil Buiza (1991), por sua vez, diz que se continua a utilizar os dois termos para denominar as coplas Sevilhanas, afirmação que se pode comprovar em Nuñez (2011) e Otero (1912), se bem que a nível popular só se utilize o termo que deriva do nome da cidade.
As Sevilhanas foram sempre dançadas e tocadas ao longo do tempo por várias classes sociais, apesar da indiferença que as classes altas sempre manifestaram por este género popular (Gil Buiza, 1991). Para este autor, as Sevilhanas têm uma inter-relação com as formas musicais e poéticas cultas, mas têm sempre o povo como princípio e fim. Gil Buiza (1991) dá enfâse à simbiose perfeita entre os elementos cultos e os elementos populares, mencionando o exemplo da influência do Bolero, do século XVIII, nos passos de dança das Sevilhanas. Para Carreras y Candi (1943) as Sevilhanas são essencialmente populares, mas pela sua finura e elegância, tanto se dançam nas feiras, nas romarias e festas populares como no teatro, nas casas particulares e nos salões aristocráticos. Otero (1912), inclusivamente, afirma ter visto em várias festividades populares, a própria Rainha Isabel II de Espanha conviver com jovens que dançavam Sevilhanas. “Es, sobre todo en Sevilla y su provincia la danza que, entre las de tradición, tiénese por más típica y a la que por igual las clases sociales todas conceden un mayor favor.” (García Matos, 1971, p.23).
Gil Buiza (1991) assinala duas grandes fases das Sevilhanas ao longo do século XX: Uma, que vai até aos anos 50 e que se caracteriza por ser uma manifestação genuinamente popular e espontânea, transmitida por tradição oral, em que costumava cantar apenas um solista (geralmente uma mulher) ou um coro, e que raramente era gravada, aparecendo apenas em algumas gravações dos maestros do Flamenco que as incluíam no seu repertório; e outra, que tem início nos anos 60, em que as Sevilhanas, ao começarem a ser interpretadas por conjuntos ou grupos de caráter profissional especialistas neste género, são gravadas por estes e deixam de ser escutadas apenas nas gravações dos artistas flamencos. Será na década de 60 que aparecem todos os grupos pioneiros do género e as coplas passam a ter autores, compositores e intérpretes que as assinam, adquirindo assim identificação. O século XX é também, segundo Gil Buiza (1991), a era da conservação dos sons, através das gravações discográficas, onde o disco possibilita a difusão posterior das Sevilhanas e permite que a música e as coplas permaneçam inalteráveis no tempo e possam ser ouvidas, como documentos sonoros de enorme valor, para a elaboração de qualquer teoria e estudo sobre as Sevilhanas. Similarmente pode referir-se a importância dos registos audiovisuais como documentos que potenciam a realização de estudos sistemáticos de análise do movimento, como é o caso desta pesquisa.
Quanto à questão da relação dos géneros folclóricos no geral, e das Sevilhanas em particular, com o Flamenco, esta análise é complexa, pois é abordada de várias perspetivas por vários autores (Carretero Munita, 1980; Durand-Viel, 1983; Gil Buiza, 1991; Gómez-Tabanera, 1968; Manfredi Cano, 1961; Mena, 1992; Nuñez, 2011). Gil Buiza (1991) explica que as Sevilhanas têm características claramente diferenciadas da maioria das coplas flamencas, sendo que, em primeiro lugar, as Sevilhanas têm uma origem mais remota que o Flamenco: a maioria dos cantes flamencos tem origem no século XIX, e pensa-se que alguns destes remontem ao século XVIII e mesmo XVII, como as Tonás; por outro lado, a Sevilhana, ou mais exatamente a Seguidilha, sua antecessora, está documentada no "Cancionero de Palacio", datado do século XV. Para Gil Buiza (1991), outra característica diferenciadora da Sevilhana é a sua profunda raiz folclórica, que define como saber e manifestação popular, e, no seu entender, o Flamenco é do povo, mas não é popular. Este autor ressalta também o caráter festivo e alegre da Sevilhana que, em termos gerais, o Flamenco não tem. Carretero Munita (1980) diz que há indícios da influência mútua entre as Sevilhanas e as danças flamencas, desde 1870:
Sabemos que en Sevilla desde 1860 van a tener una intensa actividad los cafés cantantes, en los cuales se interpretan cantes y danzas andaluces de todo tipo, jondo y clásico (está acreditado que se bailaban sevillanas), nombrando a todo el diverso conjunto con el apelativo de «cuadro flamenco». A su vez hacia 1870 tienen un gran auge las escuelas de baile en Triana; y era éste el sector donde abundaban los gitanos. Todo ello es indicio de las influencias mutuas, que ya existían soterradas y ahora abiertamente se introducen entre los bailes flamencos y los clásicos [Sevilhanas]. Y son las sevillanas las más generosas en dar y las más aptas para recibir dada su cuna y peculiar momento de eclosión. (Carretero Munita, 1980, p.78).
Dos autores referidos, Carretero Munita (1980), Durand-Viel (1983), Gil Buiza (1991) e Nuñez (2011) consideram que as Sevilhanas são fortemente influenciadas pelo Flamenco a partir do século XX; e Gil Buiza e Nuñez chegam ao ponto de considerar as Sevilhanas como uma espécie de subgénero dentro do Flamenco: "hay una serie de cantes llamados flamencos que podemos considerar como cantes folklóricos aflamencados, entre los que se encuentran las dos creaciones más autóctonas y definitivas de la Andalucía Occidental: el fandango con sus derivaciones, y nuestras coplas sevillanas.” (Gil Buiza, 1991, tomo I, p. 72)
As Sevilhanas não devem ser consideradas como um subgénero dentro do Flamenco, pois apesar de existirem Sevilhanas com um estilo marcadamente flamenco, também continuam a existir Sevilhanas com outros estilos que não se enquadram no estilo flamenco. Quando muito, a forte influência do Flamenco sobre as Sevilhanas que se começou a evidenciar desde o século XX, terá dado origem a um subgénero dentro das Sevilhanas: as Sevilhanas Flamencas. Desta forma, as Sevilhanas Flamencas, estas sim, poderiam ser consideradas um género dentro do Flamenco.